O escuro do meu quarto era apenas um pretexto para a assombração.
Eu conhecia perfeitamente as formas dentro daquele recinto. Sabia onde estavam as meias e as sujeiras.
Fechei o livro no final do penúltimo capítulo, ou no inicio do ultimo. Queria estender o êxtase daquela história por, no mínimo, algumas horas de sono a mais.
Ouvi o barulho das folhas esmagando-se rapidamente, e, num gesto instantâneo, soltei os cabelos e levantei-me para desligar a luz.
Escuro. Desajuste óptico.
Levei uns 3 segundos pra perceber novamente que aquele era meu quarto, e que tudo estava no seu devido lugar.
Tudo, menos minha cabeça. Que revezava entre a sanindade e as alucinações projetadas a partir da escuridão.
Algo me fez sentir medo e calafrios. Algo me fez não sentir meu estômago. E meus pés estavam gelando. O que, futuramente, causaria uma insônia incessável.
O medo cosumiu os cobertores e o ar. Eu respirava fantasmas por todos os lados, e eles não eram hostis, apenas eram fantasmas e costuma-se ter aversão à eles.
Eu criei criaturinhas em forma de monstros gasosos, que andavam nas minhas paredes, e simplesmente desapareciam. Abri os olhos o maximo que pude, queria explorar minha própria mente, de acordo com minhas invenções fantasmagóricas. Nada vi além do meu medo estampado na porta, e embaralhando as frases escritas por toda a extensão do meu quarto.
- Eu ainda sou eu. Constatei ao nada, ao preto.
Mas minha voz não tinha som familiar. Naquele instante até mesmo a voz que saía de minha boca era estranha. Era oculta e totalmente desconhecida.
Fazia todo o sentido criar esse tipo de cena, após ter lido sobre almas que voltavam à terra, sedentas de sangue, olhos vermelhos, vastidinhos brancos e rostos pálidos.
Talvez tudo tenha se apagado sorrateiramente, quando meus olhos se fecharam, depois de horas imaginando, e finalmente adormeci.
Essas variações mentais tornaram-se cada vez mais frequentes nas últimas semanas. E confesso o prazer dentre à bagunça cósmica. Toda a matéria do espaço, dentro de uma mente disposta à trazê-la à tona.
Espero que durante a noite de hoje, eu consigo reproduzir minha imaginação nas minhas paredes pintadas e escritas. Minhas paredes secretas.
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