Minha época acabou. Eu sabia que havia nascido antes de todo o tempo, fui cronologicamente alterada. Hoje então, consumo meus dias de velhice, e das piores. Sou uma velha sem memórias, sou uma velha que foi doada a um asilo. Hoje vivo só.
Aqui, no sul da América do sul. No final de uma vida, no final de uma estrada curta demais.
A exaustão natural de uma vida não me convém, a verdade é que cheguei aqui rápido demais, porém sem esforço algum. Fiz algumas promessas, fui do céu ao inferno por minha maldita boca. Hoje sinto o gosto agridoce de minha própria sina.
E meus sonhos? Seria melhor caracterizá-los como devaneios, pensamentos escuros escondidos no fundo de uma mente. “Uma mente sem lembranças”.
Não, eu não te apaguei de meu mundo. Apenas és escuro, no fundo. Jamais seria capaz de esquecer calor tão intenso, dias gélidos, e as pessoas, todas imunes, paradas vendo o vento que nos envolvia, numa calçada. Num lugar de minha cabeça.
Fiz desses dias meu diário. Hoje escrevo nele periódicamente, e é por isso que ele existe. Um diário cujo eu-lírico já morreu pro mundo. Hoje vivo só, no fim da estrada, e sem memória alguma.
Quem sabe um dia, antes de adormecer pra sempre, eu leia todos meus dias, que estão incluídos nesse livro, nessa arte fajuta proveniente do mais lindo devaneio. O amor escrito; remetido; inspirado; aspirado.
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