Sempre gostei daquela cidade, e sempre quis tomar um capuccino quando acordasse, porque lá era o meu lugar.
Escutava as músicas que sempre quis escutar, e fazia o que queria fazer. Praticava o que queria praticar e eu era feliz, sozinha, no meu quarto, no meu apartamento.
Longe de tudo, todos e isenta de qualquer sentimento nostálgico. Afinal, aquela era a minha Lenda Pessoal.
Eu exercia meu papel, 'maktub'. Minha missão estava ali, e eu a fazia com gosto.
Ao acordar, colocava montanhas de casacos, luvas de couro, uma cartola preta com lenços e meu cachecol vermelho; saía e então tomava minha explosão de prazer, meu capuccino de toda manhã.
E, se ainda existisse lugar para mais algum acessório, este ia nos ouvidos, e eu escutava a minha música: 'she's a sensation' ou então qualquer outra canção daqueles reis do punk que usavam roupas pretas e calças justas, jaquetas de couro e nada sabiam sobre música.
Seria paciente ao esperar as ruas pararem para que eu pudesse passar, seria rápida para que a multidão não me engolisse. Faria ponto em alguma banca de jornal, e eu leria todos os noticiários. O fim do mundo poderia estar próximo, mas eu estava vivenciando meu sonho.
O poder dos sonhos traz os sentimentos.
Meus sentimentos?
A solidão e o prazer de estar só.
O amor pelo meu destino, e não pelas pessoas.
O amor pelos Ramones e pelo frio.
A saudade à minha vida antiga, pela vida de blogueira sonhadora.
E ainda outras sensações... A farsa.
Eu era uma farsa! Uma sonhadora. Acordei e o único barulho que conseguia distinguir vinha do meu despertador, que gritava pedindo atenção, que gritava anunciando que um novo dia nascia, que mais sonhos me esperavam, sonhos acordada.
O alarme me despertava para projetar minhas ideias, e, quem sabe, encaminhar meus pés àquele frio, que, um dia eu irei sentir, gelando meus pés, minha alma, minha lenda pessoal.
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